quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Entrevista: Guia de Orientações de Coleta e Interpretação de Dados

por Leandro Pereira Tosta

email: leandropereiratosta@gmail.com.br

A entrevista é um processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informação por parte do outro, o entrevistado. As informações são obtidas através de um roteiro que enfatize a problemática e deve ser seguido com cautela devido a possíveis variáveis que serão descritos ao longo deste texto.

O processo de interação para que haja ocorrência de uma entrevista formal contém quatro componentes que são resumidamente explicitados:

a) O entrevistador

b) O entrevistado

c) A situação da entrevista

d) O roteiro da entrevista

Devem-se minimizar as possibilidade de desvios através de mecanismos de controle que poderão ser vinculados (vício amostral). Nenhum dos elementos supracitados faz sentido se desvinculados de um sistema que os contenha.

Além dos elementos citados, deve-se tomar nota dos seguintes itens:

a) A objetividade deve ser perseguida

b) Procurar a leitura do real (leitura epistemológica também chamada de “visão weberiana”

Em uma entrevista, a fonte de possíveis desvios se localiza tanto nos fatores externos ao observador (roteiro, informante e entrevistado) quanto na situação interacional entre o entrevistador e o entrevistado que se originam na pessoa do pesquisador que pode exercer, no universo de uma entrevista, o papel de coator seletivo ou coator omitivo dos dados.

Com relação aos desvios do informante, é preciso distinguir, entre as informações objetivas e subjetivas, as que foram omitidas durante a entrevista. Ambas são importantes. Deve-se ter em mente que tais informações são percepções do falante, do entrevistado.

As informações “subjetivas” podem ser fruto do estado emocional, das opiniões, das atitudes e dos valores que devem ser confrontados ou complementados com comportamentos passados ou expressões não verbais.

O ponto chave no controle de qualidade dos dados em todos os casos situa-se no uso sistemático de dados de outras fontes relacionadas com o fato observado a fim de que se possa analisar a consistência das informações e sua validade.

Os aspectos que podem interferir na qualidade dos dados por parte do informante são citados:

a) Motivos ulteriores (potenciais de influência em situações futuras)

b) Quebra de espontaneidade

c) Desejo de agradar o entrevistador

d) Fatores idiossincráticos (fatores ocorridos no intervalo das entrevistas)

Alguns fatores podem influenciar no ato da entrevista, pois podem causar desconforto ao entrevistado. Seguem descritas:

1) As entrevistas podem representar situações psicológicas novas ao entrevistador. Assim ele pode não perceber como se “comportar objetivamente”

2) Alguns entrevistados podem não gostar da natureza “autoritária” do relacionamento entre ele e o entrevistador.

3) Alguns entrevistados podem “perceber” a entrevista como uma armadilha para “fazê-los falar” sobre coisas e pessoas que podem comprometê-lo.

4) Alguns pesquisadores (principalmente os vinculados às universidades) são percebidos como indivíduos sofisticados e de alta educação, o que pode gerar uma “reação de defesa” por parte do entrevistado.

Além das “falhas por cometimento”, devem-se considerar as “falhas por omissão” que podem ocorrer tanto da parte do entrevistador quanto de entrevistado. As omissões são percebidas caso haja comparações com outros resultados de entrevistas já discutidas e apuradas na literatura.

Referência

Haguette, T.M.F., Metodologias Qualitativas na Sociologia, Editora Vozes, ed. 11, p.86-105, Petrópolis-RJ, 2007.

3 comentários:

  1. O texto possui traços que julgo, por meio da análise bibliográfica que fiz, crusciais ao desenvolvimento do roteiro e aplicação do mesmo lá na aldeia!
    Gostaria que pudessem analisá-lo cuidadosamente...
    att

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  2. Eu gostei do questionario, mas talvez podemos escrever mais perguntas. Por exemplo, eu particularmente gostaria de saber para que eles utilizam o dinheiro arrecadado, e se realmente eles tiram todas as necessidades da terra, ou se precisam comprar algum alimento ou remédio, ou também se são fornecidos pela FUNAI. Pois, tais
    aspectos caracterizam diretamente a forma com que a globalização e a urbanização afetam a tribo.
    Obs: Muito interessante essa abordagem da entrevista.

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  3. esse guia de orientação é muito bom, pois como foi dito nós, alunos de uma universidade, podemos "acuar" o entrevistado e por isso acredito que devemos agir de uma maneira completamente informal para que assim eles nao tenham "medo" de responder.
    uma pergunta que gostaria de fazer é se eles já entraram em contato com a FUNAI para um possivel aumento da área de terras da comunidade.
    BIA, devemos pensar mt bem na maneira em que faremos esse questionamento, pq eles podem até nao querer mais responder o que iremos perguntar.
    AS SUGESTÕES DE PERGUNTAS acho melhor serem enviadas por email a todos.
    att
    camila

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