terça-feira, 27 de abril de 2010

A Globalização e a Etnogênese

por Leandro Pereira Tosta

email: leandropereiratosta@gmail.com

As definições políticas induzem a generalização de que a globalização implicaria em um processo de homogeneização cultural global, onde as diferenças seriam niveladas por uma espécie de “ética liberal”, responsável pela domesticação de determinadas práticas culturais consideradas condenáveis pelo estabelecimento da “nova ordem mundial”. Fala-se em “imperialismo cultural” como formas disfarçadas de uma espécie de um “Estadunização Mundial”. A verdade é que muitas prática culturais ainda são intensamente seguida entre diversos grupos étnicos atuais, com toda a força de uma tradição local (Barbosa 1995). Denomina-se tal processo de “Etnogênese”.

O movimento de reafirmação étnica de grupos indígenas locais é acompanhado de um intenso processo de reelaboração cultural com base na modernização. Trata-se de uma luta simbólica pelo reconhecimento étnico que vem sendo objeto da atenção de antropólogos, historiadores, do público em geral, bem como das autoridades responsáveis, tanto pela forma com que vem se desenvolvendo este processo, como pelo que representa no sentido de romper com alguns pressupostos e tradições estabelecidas.

Alavancados por uma série de mudanças ocorridas na política indigenista nacional, sobretudo a partir da década de 70 (promulgação da Lei 6001 de dezembro de 1973 que se tornou conhecida como "Estatuto do Índio"; a criação do Conselho Indigenista Missionário (órgão ligado à CNBB) e da União das Nações Indígenas - UNI em 1980), vários grupos que até então eram designados pela população regional como

"caboclos" passaram a reivindicar ao órgão oficial de assistência às populações indígenas - FUNAI - o reconhecimento como grupo indígena com direitos constitucionais estabelecidos.

Uma série de grupos de diversos Estados iniciou, muitas vezes auxiliados por agentes e agências ligadas à causa indígena, um processo de retomada de práticas tidas como “tradicionais”, como a produção artesanal; práticas rituais e, principalmente, a utilização de um idioma próprio ou de um vocabulário com termos específicos para designar determinados itens de sua cultura material. Este movimento resulta de um intenso intercâmbio cultural, principalmente no campo ritual - entendido como sistema de práticas, representações e de objetos - que se deu paralelamente ao agenciamento político na resolução de seus problemas, sobretudo fundiários (Barbosa, 1995).

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