terça-feira, 6 de abril de 2010

Resenha de “Cultura, um conceito Antropológico”

O texto que se segue é uma pequena resenha de um grande clássico da literatura nacional sobre o tema de “Culturas” sob diversos conceitos. Serão mostrados alguns conceitos sob a óptica de deferentes períodos históricos da sociedade. Desde s primeiros pensadores do tema até o desenvolvimento da ciência como metodologia.

Conceitos Clássicos sobre Cultura

A origem do ato de se “culturalizar” é remota. Data desde o surgimento da comunicação como ferramenta de sobrevivência e melhoria da adaptabilidade do organismo ao meio em que se insere.

Heródoto, século V antes de Cristo, já se preocupava com o tema quando escreveu sobre os Lícios:

“Eles têm um costume singular pelo qual diferem de todas as nações do mundo.

Tomam nome da mãe e não do pai...difere dos costumes de outras partes e de outros povos.”

Seguindo um processo de compreensão das diversidades sociais, Montaigne (1533-1572) escreveu:

“na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra.”

Como exemplo da diversidade segue o exemplo. A carne de vaca é proibida aos hindus, da mesma forma que a de porco é interditada aos muçulmanos. O nudismo é uma pratica normal em certas partes da Europa enquanto em alguns países islâmicos, sob orientação xiita, seria uma assinatura à severas punições apenas pelo fato de mostrar o semblante em público.

Determinismo Biológico

Raça humana não existe. Por meio da análise de registros fósseis é possível inferir o curto período de tempo que a espécie humana se colocou no cenário biológico. Na há mais que 2 milhões de anos de amplitude entre o surgimento de “homens primitivos” e a sociedade moderna. Estima-se que socialmente organizada a comunidade humana não tenha mais que 50 mil anos.

Sendo o conceito biológico de “raça” ligado à radiação de uma determinada espécie e distinta por vários fatores “naturais” interpretados como fatores de evolução (tempo, disposição geográfica, diferenciação morfológica etc), não é possível inferir que haja mais de uma espécie humana. Humanos, como veremos adiante, compartilham de diferenças ligadas a pequenas modificações influenciadas pela natureza. As análises modernas de DNA não evidenciam resultados de diferenças entre os organismos que compõe a espécie humana.

Mas, historicamente, se afirma que algumas variáveis podem influenciar no desenvolvimento “cultural” (que mais tarde será definido sob a luz do assunto tratado a seguir) tais como “fatores biológicos” e “fatores geográficos”.

Os antropólogos estão convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais.

Segundo Felix Keesing, “não existe correlação significativa entre a distribuição das caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais.

Segue um pequeno grifo sobre parágrafos redigidos pela UNESCO logo após o fim da Segunda Guerra Mundial:

“10. Os dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam a teoria segundo a qual as diferenças genéticas hereditárias constituíram um fator de importância primordial entre as causas e diferenças que se manifestam entre as culturas e as obras das civilizações dos diversos povos e grupos étnicos...as diferenças se manifestam pela ‘história cultural’ de cada grupo...”

“15.

b) No estado atual de nossos conhecimentos, não foi ainda aprovada a validade da tese segundo a qual os grupos humanos diferem uns dos outros pelos traços psicologicamente inatos, quer se trate de inteligência ou temperamento...”

A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente através do dimorfismo sexual, mas não há evidências biológicas que comprovem que as diferença de comportamentos existente entre pessoas sejam determinadas biologicamente.

Determinismo Geográfico

O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural.

Um exemplo de tal pensamente se dá em 1915 com Huntington em Civilization and Climate na qual compara as relações entre a latitude e os centros de civilização, considerando o clima como um fator importante na dinâmica do progresso.

Porém 1920 houve a refutação com Boas, Kroeber e Wissler. Segundo as idéias dos citados “é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico”.

É consenso inferir a admissão da “ação mecânica das forças naturais sobre uma espécie tão receptiva”. Pois, diferentes características ambientais conferem diferentes mecanismos de lida com o mesmo a fim de melhor adaptação.

A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com as próprias limitações ao seu redor.

Conceito de Culturas

Edward Tylor (1832-1917) confere ao significado de Culture “um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.

Porém historicamente já havia a preocupação com tal definição.

John Locke (1632-1704) propõe, ao escrever “Ensaio Acerca do Entendimento Humano”, que a mente humana não é mais do que uma caixa vazia em detrimento do nascimento. Os hábitos eram adquiridos por meio de um processo denominado endoculturação

Já Marvin Harris (1969) completa o pensamente de Locke:

“Nenhuma ordem social é baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa mudança no comportamento”

Jacques Turgot (1727-1781) sobre o tema, afirma:

“...o homem é capaz de assegurar a retenção de suas idéias erudita, comunicá-las para outros homens e transmiti-las para seus descendentes como uma herança sempre crescente.”

O que diferencia o ser humano dos outros organismos multicelulares é a possibilidade de comunicação oral e a capacidade de fabricação de instrumentos capazes de tornar mais eficiente a homeostase em relação ao ambiente biológico.

“As instituições humanas, como grupos definidos, são tão distintamente estratificadas quanto a terra que o homem vive”. Tais diferenças se sucedem em séries uniformimente sobre o globo, independente da origem ou linguagem. Tal acontecimento é dirigido por condições do ambiente e do fator histórico. Tal segundo Roque Laraia.

Boas escreve sobre o citado acima, dotando a conseqüência como fato de que cada cultura segue caminhos particulares devido as tais “fatores históricos” acumulados.

“O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam”. Afirma Kroeber.

Abaixo segue um apanhado resumido dos estudos de Kroeber que nos auxiliam na compreensão do tema:

a) A cultura é mais que uma herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações.

b) O homem age de acordo com os seus padrões culturais.

c) A cultura é um meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Molda as ferramentas para suportar a pressão que o meio exerce.

d) O homem é capaz de transpassar as barreiras do ambiente devido a endoculturação.

e) Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado adquirido do que as ferramentas geneticamente transmitidas.

f) A cultura é um processo cumulativo resultante das experiências anteriores.

A comunicação e a maior variável do processo cultural. A linguagem é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicação oral.

Conceitos Modernos sobre Cultura

Após diversas reformulções sobre conceitos de Cultura, os antropólogos modernos sintetizaram aquilo que se acredita, hoje, como sendo uma evidência de grande peso em direção a uma verdade menos refutável. E segue:

a) Culturas são sistemas (de padrões e comportamentos socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Tal modo de vida inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas etc.

b) A mudança cultural é primordialmente um processo de adaptação equivalente à seleção natural.

c) A tecnologia, economia de subsistência e os elementos da organização social diretamente ligada à produção constituem o domínio mais adaptativo da cultura.

d) Os componentes ideológicos dos sistemas culturais podem ter conseqüências adaptativas no controle da população, da subsistência, da manutenção do ecossistema e outros.

Estudar a cultura passa a ser um estudo de símbolos partilhados pelos membros dessa cultura.

A Cultura sob a Visão Subjetiva

Ruth Benedict escreveu em “O Crisântemo e a Espada” que a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Portadores de culturas diferentes usam lentes diversas e, deste modo, possuem visões diferentes e desencontradas sobre os entes naturais.

A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria de uma dada comunidade.

O fato de que o homem vê o homem sob uma dada perspectiva de sua cultura, tem como conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida mais correto e o mais natural. Essa tendência, etnocentrismo, é responsável em muitos casos extremos pela ocorrência de inúmeros conflitos sociais. O etnocentrismo é universal.

Comportamentos etnocêntricos resultam em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogados como absurdas, deprimentes e imorais.

Referência

Laraia, R.B., Cultura um conceito antropológico, Ed. Zahar, 19º ed., Rio de Janeiro, 2006.

Um comentário:

  1. Gente! Estamos fazendo uma pesquisa sobre os tipos de manifestações culturais que vocês gostariam de ver na facul.
    Entrem no nosso blog e votem!

    http://projetoufabcultura.blogspot.com/
    É importante a participação de vocês! =)
    Quem quiser ajudar a divulgar, agradecemos! ^^

    Bjos..!!

    ResponderExcluir